17 de agosto de 2011

O Mágico e o Lixo no Palco

De há muito venho observando o crescente interesse dos mágicos manipuladores e clássicos na produção de papel picado em todos os movimentos que executam, ou seja, ao tirar um lenço do bolso, ao abrir outro, ao abrir um leque de cartas, etc. Tudo é jogado no chão do palco, juntamente com uma grande quantidade de cartas de baralho, lenços e tantas outras cargas que são produzidas.
E é sobre isso que venho até você, caro leitor da Magi, para propor uma reflexão desse tema tão sem sentido em se tratando de um ato que deveria ser, além de belo, muito limpo com relação ao entulho que se está deixando no palco.
Quando se prepara um ato mágico há que se pensar como serão e onde serão feitas as descargas de tudo que será produzido, para que o palco fique em perfeitas condições para receber o próximo número do programa, além de passar para o público a elegância do seu ato.
Produzir “metalóide”, em pequena quantidade, no momento em que se produz um lenço é uma prática bastante adotada por muitos mágicos e que provoca, pelo seu brilho, uma sensação etérea bastante agradável, com residual praticamente zero. O papel picado sem brilho e às vezes de tamanhos descomunais, ao que me parece não acrescenta o belo tão esperado em um ato mágico.
No Congresso Brasileiro de Mágicos 2004, entre outras funções, fui Diretor dos Concursos e a preocupação, tanto minha quanto da equipe que me assessorava, cada vez que um mágico terminasse de se apresentar era a de limpar o palco para que o mesmo estivesse em condições para o próximo competidor. Havia uma grande preocupação nesse sentido em função da quantidade de material largado no chão e que, com certeza, poderia prejudicar, por exemplo, uma ação de Misdirection, o que ocorre com freqüência quando um pombo voa e o resíduo que está no chão vai junto. Toda atenção do público se volta para essa ação, criada involuntariamente e de resultado extremamente negativo.
Durante as competições do FISM 2006 o que se viu foi realmente espantoso do ponto de vista da quantidade de entulho deixada no palco por quase todos os mágicos que competiram na categoria de magia de palco (101). Em análise feita com o Fabrini e Bianko, concluímos que esse volume chegaria próximo dos 30 quilos se cada um produziu uns 300 gramas.
Ainda sobre o FISM 2006, durante a apresentação da gala para a escolha do Grand Prix, o americano, Sr. Richard Bloch, conhecido como importante organizador de congressos de magia e que era o Mestre de Cerimônia daquela gala, após a apresentação de um manipulador disse o seguinte: “Vamos precisar de um tempo para a limpeza. Parece que um palhaço explodiu aqui no palco”.
Que sensação terá o público quando se depara com um ato mágico que permite esse tipo de avaliação?
OZcar Zancopé 


Observação: O presente texto, de minha autoria, está publicado na Revista Magi, edição nº 24 de março de 2007, para a qual foi especialmente escrito. www.revistamagi.com.br













2 comentários:

  1. Reflexão muito interessante, pois esse é um detalhe que pode deixar má impressão ao final de um show. Mesmo que ele tenha sido bom. E a última impressão é sempre a que fica.

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  2. Excelente texto, porquanto ao ser gerador de lixo o mágico representa desrespeito ao seu ato, ao público e aos demais artistas que irão utilizar em seguida o palco. Parabéns por induzir à reflexão de um aspecto que passa despercebido pelo que gera entulho - com o ilusionista "desapercebido" ignorando o quão ruim foi o resultado de sua distração!

    Claudio Carlos de Souza (São Paulo-SP)

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